Gosto dos venenos mais lentos

Cerguloso queria me vencer novamente, mas eu já estava pronto para a revanche. Ainda estava sem camisa, pelo jogo anterior, e usava um jeans vermelho com um boné para trás, isso pelo menos faria com que eu não fosse reconhecido de longe. Entreguei meu cigarro para que Bika segurasse e quase enfiei no olho da Ienca__ Epa zoião__ Sorri e estiquei até alcançar Bika, piscando para a mesma. Peguei o martelo e me posicionei, dessa vez sem fazer graça, pois estava novamente com fome. Acertei o pino e voltei afagando o cabelo da Veda, sorrindo carinhoso.

O martelo em minha mão pendia um pouco para o chão. Era verdade que não era normal uma criança ter uma força capaz de provocar o pino de forma que ele subisse até atingir o pássaro trovão que estava envolto em algumas nuvens na ponta final da régua que se erguia. Olhei novamente para a criatura e imaginei como seria voar montado naquele belo pássaro, imagine ter o poder de controlar os raios que emanavam dele com as próprias mãos. Meus dados já estavam doloridos de tanto ficar segurando o cabo do martelo e, quando não pude mais segurar eu o ergui o quanto eu pude e depois o soltei colocando toda a força que e tinha quando o objeto bateu no pino. Meus olhos seguiram toda a extensão da régua para poder visualizar o quão forte eu havia sido, mas como era de se esperar eu não estava nenhum pouco de sorte naquele jogo.

ingando e amaldiçoando Ienca mais que nunca, prometi a mim mesma que tomaria mais atenção dali por diante. Não marcaria bobeira, não mesmo!, pensava com uma expressão emburrada em meu rosto enquanto secava minhas roupas e cabelos com o auxílio da varinha. Finalmente avistei meus irmãos, pelo menos Cergullus, que estava ao lado de um garoto magricela de jeans vermelho e sem camiseta - mas que falta de vergonha! - e... Espera, aquele é o Nunnos?

   Segurei uma risada nos lábios e guardei a varinha num dos bolsos escondidos entre os tecidos do vestido, me pondo a correr em direção a eles, erguendo de leve as saias da minha vestimenta - note que ergui de leve, o que quer dizer, sem canelas à mostra! Pelos calções de Merlim, não mesmo! __ Nunnos, Gullus, eu quero... __ foi quando percebi que Ienca estava ali presente, ao lado de Ambika, e dei um pulo pra trás como um gato assustado __ Você __ sibilei, irritadiça, até que percebi alguns olhares estranhos recaindo sobre mim - mais do que geralmente já recaíam - e me recompus rapidamente. Minha expressão voltara a se fechar com a presença de minha nem tanto querida prima, mas não pude conter um sorriso quando vi que Gullus se preparava pra jogar mais uma partida do Força no Trovão; rapidamente me posicionei atrás dele, erguendo na pontinha dos pés e aproximando o rosto do seu ouvido __ Mais um pouco pra cima, isso... Agora pra esquerda... Esquerda... __ ele levantou a marreta e __ ... DIREITA! __ o observei acertar o pino com mais força que o esperado e resmunguei comigo mesma por não ter conseguido atrapalhá-lo. Depois foi a vez de Nunnos que, competitivo, acertara o pino com toda força, e conseguira a mesma pontuação que Gullus; pelo visto, aquela não seria a última partida, não enquanto não houvesse um vencedor... __ Me dê isso aqui __ fiz uma carícia suave nos cachos de Nunnos e sorri com afeto antes de pegar a marreta. Afiei os olhos - tanto pro pino quanto pra Ienca próxima a mim - e ergui a marreta, desajeitada pelo peso da mesma, mas conseguindo acertar o pino com mais jeito que na jogada anterior. Observei o medidor subir conforme a minha força e sorri com carinho ao sentir o afago de meu irmão __ Estou com fome... Vamos comer algo?