Peguei a serpente pelos seus chifres e a rodei, puxando-a para mais perto de mim. Minha mãe desceu de seus chifres para sua cabeça, alisando delicadamente, segurando em seu pescoço com força, vendo o resto de seu corpo remexer por completo. Meu sorriso malicioso se abriu mais. Dei de ombros e joguei a serpente para trás de mim, ouvindo seu corpinho bater na água. Voltei os olhos ao meus primos e irmãs, uma me encarava feia - Ienca - o que me fez retrucar com um revirar de olhos. A outra se matava com Cerg - Crimson - o que era já de costume. __ESSE É O MENINO LÁ DA CORVINAL, CRIMSON.__ Gritei para a menina enquanto pegava mais uma bola e atirava para dentro do gol.

Before she gets you

ra claro e evidente que Ienca estava incomodada com o meus olhares que a ela eram dirigidos, e perceber isso foi, de certa forma, aliviador. Num segundo eu estava com meus irmãos e sua amiga, e no outro os perdera novamente; havia sobrado Ienca, Seraphina e Ambika próximas à mim, e pra evitar confusões e cortes profundos futuros, me afastei delas, também.

   Caminhava olhando ao redor timidamente, com uma grossa mecha de cabelo me cobrindo pelo menos metade do rosto; odiava a forma como costumavam me olhar, como se eu fosse uma extraterrestre ou algo do tipo... Quando estava sendo só eu mesma. O sol de fim de tarde começava a pesar, e embora eu não fosse de sentir calor, estava começando a suar com todo aquele tecido que cobria meu corpo; mais uma olhada ao redor pra me certificar que nem mamãe ou Ienca estavam por perto e me dirigi àquele brinquedo da piscina, o tal Acerte o Gol. Depois de encarar uma fila infernal - mais infernal que minha casa em jantar de domingo... não, nem almoço, jantar, porque somos mórbidos assim -, entrei na piscina sem ousar me despir de uma peça de roupa sequer - mas oras, que falta de vergonha! -; depois de minutos caóticos tentando pegar a bola não só dos outros jogadores como da serpente chifruda, finalmente consegui e a lancei em direção ao gol.

Após o fiasco no Força do Trovão, decidimos aproveitar um pouco mais do festival, rumando a outra barraca de jogos que não estivesse lotada ou, preferencialmente, não exigisse músculos para obter sucesso. Para a nossa sorte - ou não -, não demorou para encontrarmos uma tenda com uma brincadeira peculiar, cuja as regras e instruções eu já conhecia.

— Vamos tentar esse? Parece ser divertido — Bernard deu de ombros, ainda chateado por conta da pontuação baixa que tivera no jogo de força. Debruçou contra a bancada ao passo em que eu tomava a dianteira e me posicionava dentro do cercado, sendo o primeiro da dupla a participar. Procurei não me importar com o fato de que, ao término da partida, acabaria encharcado. O espaço utilizado para o jogo era praticamente uma piscina.

Certo, aqui vou eu! mordisquei o lábio inferior, tateando o fundo da piscina em busca da bola que serviria para marcar os pontos nas argolas submersas, no momento em que o cronometro fora iniciado. — Juro que alguma coisa passou por entre as minhas pernas — segredei em um murmuro para Bernard que riu alto, desacreditando da veracidade do meu relato.

Quando os meus dedos encontraram um objeto macio e redondo, não esperei por mais tempo e o puxei para cima, ciente de que era a bolinha. Um esguicho baixo ecoou pelo âmbito e, ao olhar para trás, vislumbrei o que aparentava ser uma cauda serpentear pela água. — UMA COBRA! SOCORRO! — na tentativa desesperada de escapulir da piscina, acabei escorregando no ladrilho úmido, lançando a bola - não propositalmente - contra um dos aros.

Enquanto a esfera concluía seu percurso, a cobra enroscou-se em meus pés, fazendo-me tropeçar e mergulhar na água esverdeada, deixando-me encharcado. O festival, para mim, estava se saindo um tremendo desastre.